segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores 
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores 
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores 
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho 
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho 
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho 
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim"

(Meu Jardim - Vander Lee)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Intuição


"Então Maria cantou: 
o meu coração louva ao Senhor,
 a minha alma esta alegre 
por causa de Deus 
o meu Salvador."
(Lc1.46,47)

Nas comemorações do Natal, que haja tempo e disposição para nós ouvirmos  a canção que brota do mais íntimo do nosso ser. Todos temos um som que nos identifica, uma melodia que marca nossa existência.
 Que o Deus menino nos ajude a encontrar o tom perfeito e a respeitar o tempo exato de cada compasso.  Que saibamos ter paciência e dedicação para através da prática constante corrigir os desafinos e alcançar as notas que nos parecem inatingíveis. 
O espírito de Deus preenche o nosso ser e é o ar que dá beleza e harmonia ao nosso canto.










Canta uma canção bonita
Falando da vida em ré maior
Canta uma canção daquela
De filosofia
É mundo bem melhor...

Canta uma canção que agüente
Essa paulada e a gente
Bate o pé no chão
Canta uma canção daquela
Pula da janela
Bate o pé no chão...

Sem o compromisso estreito
De falar perfeito
Coerente ou não
Sem o verso estilizado
O verso emocionado
Bate o pé no chão...

Canta o que não silencia
É onde principia a intuição
E nasce uma canção rimada
Da voz arrancada
Ao nosso coração...

Como, sem licença o sol
Rompe a barra da noite
Sem pedir perdão
Hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão...

Canta uma canção bonita
Falando da vida em ré maior
Canta uma canção daquela
De filosofia
É mundo bem melhor...

Canta uma canção que agüente
Essa paulada e a gente
Bate o pé no chão
Canta uma canção daquela
Pula da janela
Bate o pé no chão...

Sem o compromisso estreito
De falar perfeito
Coerente ou não
Sem o verso estilizado
O verso emocionado
Bate o pé no chão...

Canta o que não silencia
É onde principia a intuição
E nasce uma canção rimada
Da voz arrancada
Ao nosso coração...

Como, sem licença o sol
Rompe a barra da noite
Sem pedir perdão
Hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão
E hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão...

Sem o compromisso estreito
De falar perfeito
Bate o pé no chão
Sem o verso estilizado
O verso emocionado
Bate o pé no chão...

Canta uma canção bonita
Falando da vida em ré maior
Canta uma canção daquela
De filosofia
Do mundo bem melhor
Canta uma canção que agüente
Essa paulada e a gente
Bate o pé no chão...

E hoje quem não cantaria
Grita a poesia
E bate o pé no chão...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ciclos




Vira e mexe
algo assim
voce pira
eu  (me) parto
Mexe e vira
voce pousa
eu pousada
e gira mundos
em mim.

Neuzi Ebert

domingo, 13 de novembro de 2011

AMAR


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Drummond de Andrade

Fotografia : Damário da Cruz

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Flerte

Leva-me agora
sem demora
que não se pode estar assim
à toda hora:
            leve
               leviana
                    levada...

Neuzi Ebert

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dois lados

Sempre à porta
tudo aquilo
que mais importa.

Porta
lugar de decisão
De que lado da porta
bate o seu coração


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sem Veneno


Cultive o que importa.
Regue por vontade própria.

O revolver de vez em quando a terra,
é o que faz sementes virarem brotos
tornarem em plantas
de amores que não morrem mais.

Flá Perez

http://poemacurta-metragem.blogspot.com/

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Papo-cabeça

- O que foi esse barulho?
- O Victor caiu de cabeça no chão.
- Mamãe, eu fiz assim ó: poin, poin, poin (mostrando com as mãos como havia pulado de um sofá para o outro e no puff)
- E se você quebrar o seu pescoço, nego?
- Aí a gente cola assim ó... com FITA ADESIVA!

sábado, 15 de outubro de 2011

Amor Liquido



"Amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma “líquida”, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade — mas isso nunca pode ser feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo.
É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade".
"Os contatos online têm uma vantagem sobre os offline: são mais fáceis e menos arriscados — o que muita gente acha atraente. Eles tornam mais fácil se conectar e se desconectar.
Caso as coisas fiquem “quentes” demais para o conforto, você pode simplesmente desligar, sem necessidade de explicações complexas, sem inventar desculpas, sem censuras ou culpa. Atrás do seu laptop ou iPhone, com fones no ouvido, você pode se cortar fora dos desconfortos do mundo offline. Mas não há almoços grátis, como diz um provérbio inglês: se você ganha algo, perde alguma coisa.
Entre as coisas perdidas estão as habilidades necessárias para estabelecer relações de confiança, as para o que der vier, na saúde ou na tristeza, com outras pessoas.
Relações cujos encantos você nunca conhecerá a menos que pratique. O problema é que, quanto mais você busca fugir dos inconvenientes da vida offline, maior será a tendência a se desconectar".

 Zygmunt Bauman


O livro "Amor Líquido" está disponível em pdf no link: http://amorliquidolivro.blogspot.com/
 

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"Mas é certo que a primavera chega.
É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente
se enfeita para as festas da sua perpetuação.
                                    Cecilia Mirelles - Primavera
(foto: Adelina Jacob - Cxs do Sul set/11)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dilemas de uma vida

Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, há dois valores essenciais que são indispensáveis para uma vida satisfatória e relativamente feliz: segurança e liberdade.
Voce não consegue ter uma vida digna sem esses dois elementos: "segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos, é a incapacidade de se organizar, de fazer planos ou mesmo sonhar com isso. Você precisa dos dois.
O problema é que ninguém ainda encontrou a "fórmula de ouro" ou a "mistura perfeita" de segurança e liberdade. Cada vez que voce tem mais segurança, voce entrega um pouco da sua liberdade.
Não há outra maneira. Cada vez que voce tem mais liberdade, voce entrega parte da sua segurança. Então você ganha algo e você perde algo."
Ele recorre à Sigmund Freud que no seu livro "O mal estar na civilização" diz que "a civilização é sempre uma troca, ou seja, você da algo de um valor para receber algo de outro valor". Em 1920 Freud  conclui que a civilização de sua época estava entregando demais a sua liberdade em troca de segurança.
Para Bauman, a questão para nós hoje parece ser bem o oposto: nossos problemas advém do fato de que estamos entregando demais a nossa segurança em prol de mais liberdade. Contudo, ele sente um pequeno movimento na sociedade em busca de maior segurança e estabilidade e conclui (o que parece óbvio) que nunca haverá uma solução para o dilema entre liberdade e segurança. Sempre haverá muito de um e menos do outro e que é parte do ser humano essa busca pela "mistura perfeita".
E voltamos ao "velho" ponto de partida: "Será que eu me caso ou compro uma moto?"

Entrevista completa no link: http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=POZcBNo-D4A

domingo, 2 de outubro de 2011

Desejos - (pra se saber quando se é feliz)


Desejo a você:
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor

Filme do Carlitos
Chope com amig
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você

Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar

Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.

Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal.

Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta.

Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém.

Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O que fazer com a dor que não passa???

Na semana passada surgiu em minha vida o tema da morte e confesso que me "incomodou" pra caramba. Um homem a quem havia contratado para uma pequena reforma no banheiro, entra em minha casa e traz consigo na bagagem a perda recente do filho, um jovem músico de 26 anos.
Era impossível ser indiferente à sua dor estampada no olhar, nos ombros caídos, na tristeza presente em cada movimento, em cada butuca de cigarro jogada no canto perto da janela. Mesmo assim eu me calei.
Durante quase uma semana ele trabalhou em silêncio e eu fingia que não notava nada diferente, apesar do incômodo que sentia sempre que me aproximava.
Então, durante sua última visita para fazer os retoques finais no seu trabalho, comentei algo sobre ter visto algumas fotos do seu filho na internet, uma homenagem feita pelos companheiros da sua antiga banda que estava no you tube. Esse comentário foi o estopim para mais de duas horas de conversa.
Aquela sensação de incômodo que sentia foi diminuindo e sei que muitas barreiras foram ao chão naquele momento. Misturado ao sentimento de dor, estava presente em sua fala uma tremenda sensação de raiva, indignação e também de falta de respostas convincentes para suas perguntas. Muitos pastores, amigos e amigas ja haviam tentado explicar-lhe o motivo da perda e de como era necessário que ele se conformasse com a mesma.
Alguém chegou a dizê-lo que seu filho, exatamente por ser um excelente músico, provavelmente tinha sido chamado por Deus para reger o coral dos anjos no céu.
A impressão que tenho é que algumas pessoas não levam a sério a dor alheia a ponto de infantilizá-la.
Ele sabe que a fé em Deus é o que mais o ajuda nesse momento e demonstrou ter um bom conhecimento bíblico, o que de certa forma gerava ainda mais dúvidas e questionamentos. O que fazer quando a fé que se tem parece pequena, pouca diante da dor?
Eu partilho das suas perguntas e da sua indignação. Também não sei lidar com as perdas, nem mesmo com as pequenas perdas do dia a dia. A dor para mim é um enorme ponto de interrogação, um montão de porquês... e as respostas nunca parecem estar à altura.
Para esse pai, a dor era visivelmente uma carga pesada demais que ele precisava carregar por um tempo indeterminado. Ele não parecia pronto para voltar ao trabalho, mas a vida seguia com suas imposições e necessidades - há outros filhos que precisam dele. A vida nem sempre respeita o tempo da nossa dor.
Essa experiência marcou os meus dias e está presente em meus pensamentos e orações. Para a minha surpresa, ao ler a crônica do Carpinejar desse fim de semana vejo que ele relata o seu reencontro com sua antiga professora que perdeu o filho adolescente  e faz a seguinte reflexão:

"(...) Doralice sempre me surpreendeu pela sua lucidez. Foi minha professora de matemática na Escola Estadual Imperatriz Leopoldina. Na última semana, passei pela frente de sua casa no bairro Petrópolis e arrisquei apertar sua campainha. Ela me recebeu com um longo abraço e me convidou a entrar. Reparei que pintava na varanda.
– Começou a pintar, Dora?
– Eu? Não...
– O que é essa tela? (eu me aproximei da moldura que reproduzia uma praia no inverno)
– Ah, é minha dor que estava pintando, coloquei minha dor a se mexer, a aprender algo de útil, e parar de me incomodar.
E concordei com seu raciocínio. Quantas vezes abandonamos nossa dor no sofá, vadia, assistindo TV? Quantas vezes permitimos que ela fique o dia inteiro dormindo, lembrando bobagens? Nossa dor sozinha, sem emprego, sem fazer nada, desejando morrer no escuro. Nossa dor comendo às nossas custas, terminando com os nervos, o casamento, as amizades.
Dor é feita para trabalhar, senão adoecemos no lugar dela".

Pensei que era exatamente isso que meu "amigo" estava fazendo... colocando a dor dele para trabalhar. O pior foi perceber que nem em movimento sua dor parecia mais branda.
                                                                                                                              

domingo, 18 de setembro de 2011

O coração no vôo leve pousa...
                                                                  (Neusa Doretto)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A sabedoria consiste em reconhecer os sinais do tempo... morre aos poucos aqueles e aquelas para quem o tempo parou.
A vida não sabe esperar.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bendita a sabedoria do tempo
que não apaga, nem cura, mas passa.
Bendito o momento da pausa, o cessar da inquietude,
o findar da ansiedade.
Bendita a trégua na luta que não termina,
mas que abre espaço para os desejos
para as presenças, para as saudades...
Bendita a rotina dos dias
abençoados por Deus.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Dois Pesos e Duas Medidas: o aborto perdoado em Madri - Ivone Gebara

É com muito constrangimento que muitas mulheres católicas leram a noticia publicada em vários jornais nesse último final de semana de que a Arquidiocese de Madri com aprovação papal autorizou a concessão do perdão e indulgência plenária às mulheres que confessarem o aborto por ocasião da visita do papa. A impressão que tivemos é que o papa, o Vaticano e alguns bispos gostam de brincadeiras de mau gosto com as mulheres. Não sabemos em que mundo esses homens vivem, quem pensam que são e quem pensam que somos!
Primeiro, concedem o perdão a quem pode viajar para assistir a missa do papa e passar pelo "confessionódromo" ou pelo conjunto de duzentos confessionários brancos instalados numa grande Praça pública de Madri chamada "Parque do Retiro". O perdão deste "pecado" tem local, dia e hora marcada. Custa apenas uma viagem a Madri para estar diante do papa! Quem não faria o esforço para tão grande privilégio? Basta ter dinheiro para viajar e pagar a estadia em algum hotel de Madri que o perdão poderá ser alcançado. Por isso nos perguntamos: que alianças a prática do perdão na Igreja tem com o capitalismo atual? Como se pode viver tal reducionismo teológico e existencial? Quem está tirando benefícios com esse comportamento?
Segundo, têm o desplante de afirmar que o perdão deste "crime hediondo" como eles costumam afirmar, é dado apenas por ocasião da visita do papa para que n essa mesma ocasião as fiéis pecadoras obtenham "os frutos da divina graça" confessando o seu pecado. Como entender que uma falta é perdoada apenas quando a autoridade máxima está presente? Não estariam reforçando o velho e decadente modelo imperial do papado? Quando o Imperador está presente tudo é possível até mesmo a expressão da contradição em seu sistema penal.
Não quero retomar os argumentos que muitas de nós mulheres sensíveis às nossas próprias dores temos repetido ao longo de muitos anos numa breve reflexão como esta. Mas esse acontecimento papal madrilenho, infelizmente, só mostra mais uma vez, um lado ainda bastante vivo no Vaticano, ou seja, o lado das querelas medievais em que questões absolutamente sem peso na vida humana eram discutidas. E mais, demonstra desconhecer as dores femininas, desconhecer os dramas que situações de violência provocam em nossos corpos e corações.
Ao conceder o perdão ao "crime" do aborto na linguagem que sempre usaram, de forma elitista revelam o rosto ambíguo da instituição religiosa capaz de ceder ao aparato triunfalista quando sua credibilidade está em jogo. Podem abençoar tropas para matar inocentes, enviar sacerdotes como capelães militares em guerras sempre sujas, fazer afirmações públicas em defesa da instituição condenando pobres e oprimidas, abrir exceções à regra de seus comportamentos para atrair jovens alienados dos grandes problemas do mundo ao rebanho do Papa. A lista dos usos e costumes transgressores de suas próprias leis é enorme...
Por que reduzir a vida cristã a pão e circo? Por que dar um espetáculo de magnanimidade em meio a corrupção dos costumes? Por que criar ilusões sobre o perdão quando o dia a dia das mulheres é cheio de perseguições e proibições às suas escolhas e competências?
Somos convidadas/os a pensar no aspecto nefasto da posição do papa e dos bispos que se aliaram a ele. O papa não concedeu perdão e indulgência total ou plena "urbe et orbe", isto é, para todas as mulheres que fizeram aborto, mas apenas àquelas que se confessaram naquele momento preciso e por ocasião da visita do papa à Espanha. Não é mais uma vez a utilização das consciências especialmente das mulheres para fins de expansionismo de seu modelo perverso de bondade? Não é mais uma vez abrir concessões obedecendo a uma lógica autoritária que quer restaurar os antigos privilégios da Igreja em alguns países europeus? Não é uma forma de querer comprar as mulheres confundindo-as diante da pretensa magnanimidade dos hierarcas?
Será que as autoridades constituídas na Igreja Católica e de outras Igrejas são ainda cristãs? São ainda seguidoras dos valores éticos humanistas que norteiam o respeito a todas as vidas e em especial à vida das mulheres?
Creio que mais uma vez somos convocadas/os a expressar publicamente nosso sentimento de repúdio à utilização da vida de tantas mulheres como pretexto de magnanimidade do coração papal. Somos convidadas/os a tornar pública a corrupção dos costumes em todas as nossas instituições inclusive naquelas que representam publicamente nossas crenças religiosas. Somos convidadas/os a ser o corpo visível de nossas crenças e opções.
Fazendo isso, não somos melhores do que ninguém. Somos todas pecadoras e pecadores capazes de ferir uns aos outros, capazes de hipocrisia e mentira, de crueldade e crueldade refinada. Mas, também somos capazes de dividir nosso pão, de acolher a abandonada, de cobrir o nu, de visitar o prisioneiro, de chamar Herodes de raposa. Somos essa mistura, expressão de nosso eu, de nossos deuses, dos espinhos em nossa carne convidando-nos e convocando-nos a viver para além das fachadas atrás das quais gostamos de nos esconder.


A teóloga Ivone Gebara é doutora em Filosofia pela Universidade Católica de São Paulo e em Ciências Religiosas pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Pelo CEBI, colaborou no livro Terra: Eco Sagrado.

domingo, 21 de agosto de 2011

Outra Lógica

A mãe assiste tv e comenta: ui, que mulher feia.
E o filho prontamente pergunta: O QUE ela fez?

sábado, 13 de agosto de 2011

De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
Los sueños anuncian
otra realidad posible
y los delirios otra razón.
En los extravios
nos esperan hallazgos,
porque es preciso perderse
para volver a encontrarse.

Eduardo Galeano

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
                    Manoel de Barros

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Condição de Entrega - Martha Medeiros


Acaba de ser revelado o que uma mulher quer e que Freud nunca descobriu. Ela quer uma relação amorosa equilibrada onde haja romance, surpresa, renovação, confiança, proteção e, sobretudo, condições de entrega. É com essa frase objetiva e certeira que Ney Amaral abre seu livro Cartas a uma Mulher Carente, um texto suave que corria o risco de soar meio paternalista, como sugeria o título, mas não. É apenas suave.
Romance, surpresa etc, não chegam a ser novidade em termos de pré-requisitos para um amor ideal, supondo que amor ideal exista, mas "condição de entrega" me fez erguer o músculo que fica bem em cima da sobrancelha, aquele que faz com que a gente ganhe um ar intrigado, como se tivesse escutado pela primeira vez algo que merece mais atenção.
Mesmo havendo amor e desejo, muitas relações não se sustentam, e fica a pergunta atazanando dentro: por quê? O casal se gosta tanto, o que os impede de manter uma relação estável, divertida e sem tanta neura?
Condição de entrega: se não existir, a relação tampouco existirá pra valer. Será apenas um simulacro, uma tentativa, uma insistência.
Essa condição de entrega vai além da confiança. Você pode ter certeza de que ele é uma pessoa honesta, de que falou a verdade sobre aquele sábado em que não atendeu ao telefone, de que ele realmente chegará na hora que combinou. Mas isso não é tudo. Pra ser mais incômoda: isso não é nada.
A condição de entrega se dá quando não há competitividade, quando o casal não disputa a razão, quando as conversas não têm como fim celebrar a vitória de um sobre o outro. A condição de entrega se dá quando ambos jogam no mesmo time, apenas com estilos diferentes. Um pode ser mais rápido, outro mais lento, um mais aberto, outro mais fechado: posições opostas, mas vestem a mesma camisa.
A condição de entrega se dá quando se sabe que não haverá julgamento sumário. Diga o que disser, o outro não usará suas palavras contra você. Ele pode não concordar com suas ideias, mas jamais desconfiará da sua integridade, não debochará da sua conduta e não rirá do que não for engraçado.
É quando você não precisa fingir que não pensa o que, no fundo, pensa. Nem fingir que não sente o que, na verdade, sente.
Havendo condição de entrega, então, a relação durará para sempre? Sei lá. Pode acabar. Talvez vá. Mas acabará porque o desejo minguou, o amor virou amizade, os dois se distanciaram, algo por aí. Enquanto juntos, houve entrega. Nenhum dos dois sonegou uma parte de si.
Quando não há condição de entrega, pode-se arrastar, prolongar, tentar um amor pra sempre. Mas era você mesmo que estava nessa relação?
Condição de entrega é dar um triplo mortal intuindo que há uma rede lá embaixo, mesmo que todos saibamos que não existe rede pro amor. Mas a sensação da existência dela basta.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"Porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço".
                                              Osvaldo Montenegro

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Negócios & Oportunidades

Construo casas de felicidade imóvel
pagamento   à vista de mil encantos reais
Tratar ao lado
da pessoa amada
ou na morada.

Neusa Doretto

terça-feira, 26 de julho de 2011

Uma noite com Carpinejar

Fabricio Carpinejar é um poeta caxiense de 36 anos que faz uma perfeita combinação entre bom humor e inteligencia,coisa rara de se ver na mídia.
Sua sensibilidade para captar pequenas nuances dos acontecimentos cotidianos e transformá-los em poesias, crônicas e personagens literários ja lhe rendeu diversas obras publicadas e várias premiações. 
Sua presença é questionadora, seus textos derrubam tabus e rompem com padrões pré-estabelecidos, especialmente quando o assunto é relações humanas e masculinidade.
Engraçado, simples, inteligente, sensível e pertubador... são alguns dos ingredientes que podem fazer de uma noite com Carpinejar uma experiência divertida e prazerosa.
Encontrei esse registro do seu encontro com a Ana Carolina no lançamento do livro "A Mulher Perdigueira" e não resisti... sou fã da dupla (que não é sertaneja).




Não Sabemos Namorar

Agora dei para mascar chiclete com sabor melancia. Deveria esconder esse detalhe.
Mórbido para quem atravessou os 36 anos.
Mas vejo o quanto escondo o romantismo debaixo da mordida. Sou açucarado.
Meu beijo é diabético. Logo eu que passo uma imagem seca de bolacha de sal.
Vá lá, não vou sorrir para mim de noite ou pedir a benção para os apaixonados,
mas não acredito nesta história de acomodação no romance.
Que de uma hora para outra cansamos.
Não é cansaço, não é que paramos de seduzir porque conquistamos
e que não precisamos mais arrebatar com surpresas.
Não é que estamos seguros e não arriscamos mais.
Não é o conforto ou o domínio territorial.
Senão começaremos a acreditar que existe cupido.
E cupido é o mais cafona dos anjos.
Quem começa uma relação com cupido termina na fossa
repetindo os erros ortográficos das canções sertanejas.
Confio que há gente que não saiba namorar. Não sabe namorar, e pronto.
Supõe que é instintivo, natural, que é beijar, abraçar e os oceanos transportam a espuma.
Que basta amar e as relações funcionam. Mas as relações queimam pelo pouco uso.
A eletricidade enferruja.
Há gente que jura que namorar é cumprir um expediente depois do expediente:
jantar, conversar e transar.
Há gente que não quer namorar,
e sim uma amizade para dividir o que se é. Sem tensão. Sem cobrança. Sem nervosismo.
Que tudo está definido e seguro para o final do ano,
que não pode ser perdido no próximo minuto.
Eu acabei de perder o próximo minuto. Namoro é ambição.
É um final de semana a cada dia. É uma delicadeza insuportável,
antecipar os movimentos e agradar quando não se espera.
Gentileza em cima de gentileza, infindável.
Um cuidado para não magoar com aviso e pergunta,
com aquela educação concedida a gestantes e idosos.
Namorar requer uma atenção absoluta.
E não reclame: amar pode ser para toda a vida quando oferecemos toda a nossa vida.
Tem que se preparar, ceder, abrir espaço, oferecer, renunciar.
A inquietação nasce da paciência. A criatividade nasce de uma porta fechada.
É um extremismo terrorista. Explodiremos civis.
Durante algum desentendimento, mobiliza-se a genealogia da imaginação para escandalizar de novo. Carro de som, helicóptero, arranjos suicidas pela janela. Não é permitido ficar quieto, parado, para conversar a respeito. A conversa demora.
No namoro, não existe como ser egoísta. Egoísmo se deixa no JK.
É pensar pelo outro, com o outro, como o outro.
É ter uma lista de compra de mercado na ponta da língua, junto com o chiclete de melancia:
qual a pasta de dente que ela usa, o xampu, o condicionador, o azeite, o leite que toma, o suco... Desconhecer a geladeira da namorada é passagem direta para o congelador.
É entrar numa livraria e pensar no livro que ela vai gostar, é entrar numa loja e pensar um vaso que combinaria com sua sala, é entrar no cemitério e sonhar com um mausoléu para a família, sim, planejar a morte junto - nada mais romântico.
É entrar em si mesmo e lustrar as memórias mais distantes
para parecer orfão antes de sua chegada.
Agora dei para mascar a minha boca.

                                                                                                                 http://carpinejar.blogspot.com/


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tudo tem seu tempo

As mais deliciosas tortas tem prazo de validade (tenho apenas uma semana pra comer a minha torta de aniversário)... coisas perecíveis são assim, precisam ser desfrutadas em tempo hábil para não fazerem mal. Pena que nem tudo que a vida nos presenteia vem devidamente etiquetado. Nesse caso, ter um bom "faro" bem que ajuda. Senão é contar com a sorte ... ou ter um estômago de avestruz para exercitar a maravilhosa arte de "engolir sapas/os".
Boa sorte!!!


sábado, 23 de julho de 2011

"Eu mesma não entendo minha enormíssima paciência de ficar à toa,
só pensando, pensando
e sentindo". Adélia Prado

domingo, 10 de julho de 2011

sábado, 9 de julho de 2011

Maria Rezende declama Drummond




Ana Maria Rezende é carioca, tem 32 anos e tem aparecido no cenário da cultura poética e teatral como uma das grandes poetisas da atualidade. Participou de cursos na "Casa Poema", fundada por Elisa Lucinda onde especializou-se na arte de declamar poesias. Em seus trabalhos cita obras suas e dos grandes clássicos da poesia como Adélia Prado, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Tem dois
títulos publicados "Substantivo Feminino" e "Benditas Palavras" e escreve para o blog ttp://mariadapoesia.blogspot.com/.
Apesar de dizer que seu instrumento de trabalho pode ser unicamente a Palavra, nas suas apresentações usa cenários, músicas e interpretações que fazem da poesia uma verdadeira peça teatral, como no video acima em que declama "Caso do Vestido" de Carlos Drummond de Andrade.

O trabalho mais solitário do mundo
(Tony Hoagland)

No momento em que você começa a fazer a pergunta, Quem me ama?,
você tá completamente ferrado, porque
a próxima pergunta é Quanto?,

e aí já se passaram centenas de horas,
e você ainda tá curvado sobre
os seus gráficos e ábaco,

tentando decidir se você teve o suficiente.
Esse é o trabalho mais solitário do mundo:
ser um contador do coração.

É tarde da noite. Você tá sozinho,
e e em volta de você, você pode escutar
os sons das pessoas

se apaixonando e se desapaixonando,
empurrando as catracas, colocando
suas moedas nas frestas,

pagando o preço que é cobrado,
que muda o tempo todo.
Ninguém sabe porque.
                                   (tradução: Maria Resende)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Percepções

Pessoas peso-as
não por kg
nem por metro
nem por decreto
nem pelo olhar.
Gosto daquelas
cuja presença
provoca em mim
profundezas ou
tamanha leveza,
tamanho desejo
de poder voar...
ainda que eu tenha raízes.

sábado, 2 de julho de 2011

Códigos

Te enviei um sinal de fumaça,
um não, vários
Sabe o que diziam?
A chaminé não funciona.
Ah, o celular tb não
E aqui continua frio.
Aprendi então que
onde tem muita fumaça
tem pouco fogo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sem grau

Relaxo. Alivio.
O mundo não acabou e o amor não é cego.
Usa óculos.
E depois de algum tempo
enxerga melhor de longe. (Neusa Doretto)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A rotina perfeita é Deus - Adélia Prado

Recolhe do ninho os ovos
a mulher
nem jovem nem velha,
em estado de perfeito uso.
Não vem do sol indeciso
a claridade expandindo-se,
é dela que nasce a luz
de natureza velada,
é seu próprio gosto
em ter uma família,
amar a aprazível rotina.
Ela não sabe que sabe,
a rotina perfeita é Deus:
as galinhas porão seus ovos,
ela porá a sua saia,
a árvore a seu tempo
dará suas flores rosadas.
A mulher não sabe que reza:
que nada mude, Senhor.



segunda-feira, 6 de junho de 2011


Sou noite, penumbra
breu, bruma
um espaço vazio em algum lugar.
Também ja fui rio
desaguei-me todinha
me escorrí por aí ...
deus me livre represar.
Em madrugadas frias,
sou tua, sou minha
sou o que dá
às vezes pilantra, às vezes poeta
pra equilibrar.
Depois por ironia
ou por simples prazer
Eu me visto do amanhecer
e saio a colher o dia.




domingo, 5 de junho de 2011

ah, o amor e seus ideais... Parte II

   Gosto das teorias como gosto de tudo que tenta definir o indefinível, descrever o indescritível ou explicar o inexplicável... gosto da ousadia e da presunção de quem tenta captar algo e criar categorias. E gosto mais ainda de quem usa seus conhecimentos para desconstruir ou relativizar àquelas, fazendo surgir novos conceitos ou pontos de vista. Assim como a pedra lançada na água que faz surgir um círculo após o outro sucessivamente.
   Foi esse espírito curioso, voltado às coisas mundanas e corriqueiras que me levou a conhecer um pouquinho da teoria do Anarquismo Somático ou Somaterapia, defendida por Roberto Freire em 20 anos de terapia e descritas nos seus livros "A alma é o Corpo" e "Ame dê Vexame".
   A palavra Soma é usada para descrever a totalidade do ser humano em suas extensões físicas, afetivas, sensuais, cognitivas e também sexuais. Em outras palavras, Soma é o ser humano visto na sua integralidade, na sua forma plena. Soma ou Somaterapia é uma prática terapêutica corporal e em grupo, baseado na obra de Wilhelm Reich, que visa a recuperação de pessoas submetidas a repressão autoritária. Como repressão autoritária compreende-se toda forma de poder que tira do individuo a sua liberdade pessoal de pensar e agir conforme sua própria natureza humana e ecológica.
   A Soma tenta desconstruir a idéia circular de que o amor rima com dor e combate a Ideologia do Sacrifício, segundo ele, sustentadas pelas religiões judaico-cristãs, pelo Marxismo e pela própria psicanálise. Para os adeptos dessa linha de pensamento o principal conflito das pessoas é a relação entre liberdade versus autoritarismo, ou seja, garantida a liberdade pessoal, os problemas afetivos, sexuais, criativos e produtivos desaparecem.
   Em uma entrevista Roberto Freire comenta de que forma suas teorias marcam sua forma de relacionar-se: "Fico totalmente apaixonado pela pessoa que está ao meu lado, na hora que estou com ela. E acontecem sempre coisas fortes e bonitas. E ficamos juntos o tempo que for bom para nós. Preciso de pessoas que não me cobrem fidelidade, nem continuidade, nem exclusividade.Gosto do namoro, do encontro, que propicia sexualidade original, lúdica, alegre, descartável. Assim, a gente vive em permanente estado de descoberta, surpresa e encantamento."
   Enquanto o ideal de amor romântico dos contos de fadas e novelas terminam sempre com um "... viveram felizes para sempre", o ideal de amor anarquista pressupõe a liberdade de escolha que é altamente temporal, presente, cotidiana e momentanea.
Os vínculos existem somente enquanto há interesse de ambas as partes, sem perspectivas para um depois. Com todo esse despreendimento, engana-se quem pensa que a Somaterapia é a cura para todas as "dores de cotovelo" ou "ressacas de amor". Esses anarquistas também convivem com a dor da ausência, dos "nãos" recebidos e principalmente com a solidão. Mas a ausência do outro não é entendida como perda, uma vez que não existe o sentimento de posse ou propriedade.
   Dois grandes expoentes do amor anarquista foram, além de Reich, David Cooper e Fritz Perls, dos quais Freire se reconhece como discípulo.
   É de Perls um dos textos mais conhecidos que circula pela internet e que tem como fundamento essa idéia do amor anarquista e libertário, que se chama Oração da Gestalt:

"Eu faço as minhas coisas
e você faz as suas.
Não estou neste mundo
para satisfazer as suas expectativas
e você não está neste mundo
para viver conforme as minhas.
Você é você,
eu sou eu.
E se por acaso nos encontrarmos
será maravilhoso.
 E se não,
 não há nada a fazer.

   Um texto anônimo, escrito por um dos clientes de Roberto Freire, acrescenta à essas, outras idéias, como variações sobre um mesmo tema:

"Se eu faço unicamente o meu
e tu o teu
corremos o risco de perdermos
um ao outro e a nós mesmos
Não estou neste mundo para preencher tuas expectativas
mas estou neste mundo para me confirmar a ti como um ser humano único
para ser confirmado por ti
Somos plenamente nós mesmos
Somente em relação um ao outro.
Eu não te encontro por acaso
Te encontro mediante uma vida atenta
em lugar de permitir que as coisas me
aconteçam passivamente
Posso agir intencionalmente para que aconteçam
Devo começar comigo mesmo, verdade,
mas não devo terminar aí: a verdade começa a dois".

Casamentos, fidelidadade, cobranças, ciúmes, pactos e promessas são vistos como "neuroses" de uma sociedade autoritária e burguêsa.
   Você concorda ou tem uma teoria diferente?







  

Ah, o amor e seus ideais... Parte I

Herdamos, praticamos e perpetuamos diferentes fôrmas e formas de amar.
Com qual delas você se identifica?
Você consegue reconhecer um padrão no seu jeito de relacionar-se com as pessoas?
Têm uma teoria ou "filosofia" que você segue à risca ou se permite surpreender, se deixa levar... deixar-se levar também não se encaixa num determinado padrão de comportamento?
É no universo das relações que a pessoa se desnuda, revelam-se as identidades, os valores aparecem e os desejos mais íntimos vêm à tona.
E nas páginas dos sites de relacionamentos ficam algumas pistas evidentes de comportamentos tão particulares e tão universais ao mesmo tempo. Milhares de pessoas, por exemplo, aderem à comunidade do orkut: "Eu quero um amor pra toda vida" ou "Não é ciúmes, porra, é amor". Coincidência, parte da natureza humana ou comportamento ideologizado, propagado, difundido? Quem nomeia o que eu sinto?
Quem diz o que é ou não permitido no vasto campo das relações humanas?

terça-feira, 31 de maio de 2011

Maternidades

Para fechar o mês de maio, escolhi mostrar um pouco do trabalho do artísta plástico Assis Costa que é natural de Currais Novos/Rio Grande do Norte, onde ainda reside e tem uma galeria,.
No entanto, ele pode ser encontrado em terras gaúchas durante boa parte do ano, pois participa da Chocofest em Nova Petrópolis, do Natal Luz em Gramado e da Fenadoce em Pelotas, como diretor artístico. Quem diria que tem mãos potiguar tão talentosas por detrás destes Eventos?











Para conhecer outros trabalhos visite o site do artista:  http://assiscostaartistapotiguar.blogspot.com

segunda-feira, 30 de maio de 2011

La Belleza - Mercedes Sosa


Cuando la belleza pase
Sera bella tu mirada
Sera bella tu sonrisa
Y las noches seran claras
Cuando la belleza pase
Cada beso y cada abrazo
Sera un grito de belleza
Seras bella en mi conciencia
Oh mi amor! oh mi amor!
Oh mi amor!
Oh mi amor!
Cuando la belleza pase
No habra mas que lunas nuevas
Y en un circulo de estrellas
Brillaras con luz eterna
Cuando la belleza pase
Te dare lo que me queda
Cuando la belleza pase
Cuando la belleza pase...
Quizas no nos demos cuenta

Cuando la belleza pase...
Quizas no nos demos cuenta
Oh mi amor
Seras bella por dentro
Bella en el alma
Y en el fondo de mi corazon.
                                                                      Composição: Alejandro Federico Lerner/1998

 

domingo, 22 de maio de 2011

Um beijo pela liberdade...

Duas manifestações populares que ocorreram durante essa semana me chamaram atenção.
Em Porto Alegre teve "Beijaço Gay" - casais homoafetivos beijavam-se na Esquina Democrática diante do assombro e curiosidade dos passantes que algumas vezes paravam para assisitir.
"O “beijaço gay” pediu a aprovação, pelo Congresso Nacional, de um projeto de lei que trata a homofobia como crime, tal como acontece com o racismo. “A liberdade de expressão sexual é um direito das pessoas. O STF aprovou a união entre os homossexuais, mas eles ainda não podem andar na ruas por estarem sujeitos a agressões”, afirmou o coordenador do Diretório Central de Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Matheus Gomes".
Em São Paulo ontem foi organizada a Marcha da Maconha com o objetivo de trazer à tona a discussão sobre a descriminalização da maconha. Os manifestantes foram impedidos de marchar pelo judiciário que fez valer a sua vontade através da ação da Polícia Civil.
Muitos dirão que essas duas questões não deveriam ser colocadas lado a lado. Concordo plenamente que as lutas são distintas. Ambas, porém tem em comum o rechaço imediato que provocam em alguns meios da nossa sociedade.
O que eu vejo são dois grupos marginalizados dizendo NÃO para o lugar comum aonde foram jogados; dois grupos que querem sair dos becos, do escuro, das margens e estão dispostos a mostrar a cara à luz do dia, nos centros da cidade, contra todas as caras feias e narizes virados, contra toda violência verbal e até mesmo física a que são sujeitados.
Vejo dois grupos querendo expressar suas opiniões e expôr os seus valores, que podem até ser questionados, mas não deveriam ser calados ou inibidos.
Quantas oportunidades de diálogos poderiam e ainda podem surgir dessas manifestações? De que forma as universidades e as políticas públicas podem trabalhar escutando o que esses jovens têm a dizer, ouvindo suas reinvindicações e tratando-as com seriedade e respeito.
Acredito que muitos desses jovens estão mais capacitados a refletir sobre as questões que os envolvem do que alguns dos nossos lideres no Congresso, tão preocupados em debater o que é "normal" no âmbito privado.
Torço para que encontremos formas de dialogar... e que para isso estejamos dispostos a enxergar esses rostos ainda novos e ouvir o que eles e elas têm a nos dizer.
Vamos aguardar o que mais vem por aí...

terça-feira, 17 de maio de 2011

O tempo da gente














O relógio
da ansiedade
Faz do tempo
Tempestade,
Tudo ou nada
Bem me quer ou
Mal te quero
Nem te quero
ou simplesmente
Quero tudo
Todo o tempo...
an
si
o
sa
men
te
tic tac tic tac tic tac

quinta-feira, 5 de maio de 2011

As leis, assim como as verdades e os sentimentos, têm prazo de validade e precisam ser reafirmadas para continuarem sendo válidas.
É a água que faz nascer o milagre da flor, diz o poeta Thiago de Mello.
Nem a Constituição foge à regra - se não for cuidadosamente "regada" torna-se infértil, seca, perde o viço e a cor.
Homologa-se o que ja havia sido decidido,tira-se a poeira dos sentidos,raspa-se as tintas do preconceito e eis que surgem palavras re-significadas, reluzentes e brilhantes. Palavras e sentidos que sempre estiveram ali, mas que agora ressurgem como novidade... porque alguns resolveram notá-las.
Será que houve distribuição gratuita de lentes no Judiciário?
Pelo menos em alguns aspectos noto que houve uma recuperação da visão, ainda que parcial.
Tudo parece tão igual... e ser igual, a partir de hoje, é que ficou muito diferente.


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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Delicadezas

Se voce quer me agradar, meu bem, não exijo tanta destreza: basta um cafuné na cama e um café na mesa.

terça-feira, 12 de abril de 2011

"Nisto consiste o amor:
que duas solidões se protejam
se toquem mutuamente
e se cumprimentem". Rilke

sábado, 9 de abril de 2011

Prazer/prazeres da vida

Eu vivo de prazeres. Com isso não estou dizendo que a minha vida é um "mar de rosas" (cruzes! a idéia de um mar de rosas não me empolga nenhum pouquinho. De onde será que surgiu essa expressão?). Afirmo apenas que não são as turbulências que me fornecem a energia vital que preciso pra viver bem. O que me dá motivação, energia, o que me impede de ficar  "doida varrida", deprimida ou estagnada, andando em círculos sem novas perspectivas é poder sentir prazer.
Volto a dizer, sem querer parecer promíscua, que o prazer é que torna a vida possível. Pequenos e grandes prazeres cotidianos. Prazeres que só posso sentir nesse meu corpo cheio de sentidos, alguns mais aguçados, outros menos, prontos pra serem estimulados.
Eu não diria que sinto alegria de viver com a mesma segurança que posso dizer que sinto prazer em estar viva. Posso passar dias sem ter alegria, mas não vivo sem prazer. O corpo pede, busca, vibra por prazer. Sem prazer nada faz sentido.
Sinto prazer em dormir numa cama cheirosa - a sós ou acompanhada.
Sinto prazer em ver o meu filho dormir largado, confiante. E quando o beijo e sinto seu cheirinho de suor, de dormido... uma sensação de prazer me invade a alma.
Sinto prazer em tomar um bom café da manhã - café com leite quente, pão com nata e "chimia" de uva. Delicioso! Se é final de semana e posso dormir mais e encrementar o café da manhã, o prazer é ainda maior.
Sinto prazer quando começo o dia com um "bom dia" honesto. E quando consigo cumprir bem o meu papel profissional.
Sinto prazer  quando vejo um filme, quando escuto uma música de qualidade, quando provo uma boa receita, quando sinto a boca inundar de desejo.
Sinto prazer com a beleza de uma imagem, uma paisagem, um gesto, um objeto, um alguém.
Sinto prazer quando sinto reciprocidade no olhar e cumplicidade no sorriso. Dá prazer ser amada.
Sinto prazer quando recebo um elogio, uma proposta boa de trabalho, um convite pra tomar chimarrão, um e-mail desejando: boa sorte, feliz aniversário, boa semana, ou um sms do tipo: lembrei de vc, to c/ saudades, to indo ai. 
Sinto um enorme prazer em caminhar pelas ruas sozinha, sem pressa, olhando o tempo, as pessoas, as vitrines, respirando liberdade, sentindo o clima, planejando o jantar, deixando as horas passar.
Sobretudo, sinto prazer quando descubro uma poesia, um livro novo ou uma autora que traduz meu momento, meu ciclo, minha fase ou minhas inspirações. 
Fazer sexo pode ser muuuito prazeroso também. Não é como comer um chocolate que voce prova, acha bom e pronto. O sexo é um prazer condicionado... são tantas coisas que influenciam. Ou não??? 
Há uma série de coisas que dão prazer que são menos condicionadas ao momento, se estou me sentindo bem ou não. Elas são prazerosas porque são. Por exemplo, cuidar de mim: tomar um banho demorado, ir ao salão fazer as unhas (meu lado dondoca), ganhar colo, massagem, cafuné, ... eu posso estar acabada que essas coisas dão um prazer danado e, se estiver feliz... prazer dobrado.
Há tantos prazeres ainda por descobrir ou reconhecer... Os prazeres da vida, dizem, são passageiros. Eu até concordo... vão e vem infinitamente sem que eu possa retê-los. Não existe prazer para sempre... é uma sensação, uma vibração, um instante. Por isso, vivo de prazeres plurais e ainda que não os tenha como posse, sei que eles me pertencem e seguramente posso chamá-los de meu/meus, exclusivos e particularmente meus.

sábado, 2 de abril de 2011

Quaresma

"Faz escuro mas eu canto porque o amanhã vai chegar." Thiago de Mello

"Recrias tua vida sempre, sempre. 
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. 
Recomeça. "  Cora Coralina


Não gosto do deserto
da fome não satisfeita
da sede não saciada
do sol queimando a pele
sem ninguém, sem nada.
Não gosto da solidão
não desejada.
Não gosto de Quaresma
nem da cruz
nem dos tombos 
não suporto as irônicas risadas
nem a piedade calada
nem os assombros, inúteis.
Não gosto da dor
Nem do que faz doer
Com ela não posso aprender
nenhuma lição.
Pior mesmo que padecer na quaresma
é não saber viver a ressurreição.