quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Poder das Palavras

Herdei da teologia, principalmente das conversas com as teólogas feministas, esse gosto pelas palavras, esse olhar para as palavras como geradoras, parideiras de mundos. Palavras tem poder - são feitas de magia e bruxaria, pragas e encantos. Sempre foi assim, segundo a Bíblia, antes de todas as coisas havia a Palavra Criadora, o Verbo, a Sabedoria.
"Palavras apenas, palavras pequenas, palavras..."
Tenho várias caixinhas recheadas de palavras que recebo ou encontro por aí e vou guardando, algumas aleatóriamente, porque são livres demais para se encaixar nas minhas categorias, outras não dão trabalho algum, é só colocar na caixinha padrão, etiquetar e usar conforme a conveniência. São fáceis de achar por aí, todo mundo usa.
Tenho uma linda coleção de palavras, algumas me são tão preciosas que raramente ouso pronunciá-las. As palavras brilhantes e alegres estão criando mofo e preciso colocá-las para fora mais vezes... Já as apaixonadas e carinhosas parecem desgastadas rsrssrsrrsr, talvez precisam ganhar uma cor diferente (ando com essa mania de querer pintar e reformar tudo aqui em casa, mas tem coisas que não tem jeito, só trocando por novas mesmo).
Como eu disse, tenho guardadas muitas palavras... palavras musicais, palavras novas, mais antigas, estrangeiras, de todos os tamanhos, bonitas, feias, simples e complexas, palavras sagradas e profanas, também tenho algumas palavras estranhas... mas o que tem me preocupado mesmo é a maneira como venho usando essa coleção, com quais caixinhas tenho brincado, quais tenho aberto e pronunciado.
Algumas palavras são muito perigosas e podem ferir profundamente. Não sou a única que conhece esse tipo de palavras, basta soltar uma e voce ja recebe em troca diversas outras... chega ser engraçado, se não fosse triste.
As palavras ditas e ouvidas no momento de raiva ganham intensidade maior e produzem ecos que dificultam a ação do elixir do esquecimento. Uma vez ditas não se pode colocá-las nas caixinha como se nada tivesse acontecido. Elas têm vida própria e pintam realidades para além daquela que se desejava expressar ou se sentia ao dizer. Ao serem pronunciadas registram na memória o som e a imagem daquele instante e ficam guardadas ali até que outras palavras sejam colocadas sobre elas e ocupem o seu lugar. Tudo é uma questão de tempo e de espaço e cada colecionador pode escolher a palavra que quer guardar.
Tenho aprendido às duras penas que amar muito alguém e querer bem a essa pessoa não significa ver o mundo da mesma maneira e que ter um objetivo comum não significa que há consenso quanto à forma de alcançar esse objetivo... as diferenças que enriquecem e aproximam as pessoas, também causam um tremendo cansaço, desgastam as relações e as palavras, causam dor.
Haja tempo para cicatrizar as feridas, haja tempo para tornar a memória e as palavras doces novamente, como foram um dia.

2 comentários:

Aluízio Vidal disse...

Diz o Salomão que a vida e a morte estão sob o poder da língua... tomara que prefiramos a vida, sempre, e que a promovamos, sempre...
Gosto das tuas palavras!

Purpleing. disse...

não tenho como comentar esse post.
simplesmente me emocionou, é uma das melhores descrições de palavras e sentimentos.
enfim, poucas pessoas dão o valor da palavra, e a jogam fora, como se fosse algo banal, algo normal.
esquecem do poder de cada palavra. o poder de lançar a palavra.
abraços.