Escrevi antes sobre o poder das Palavras e agora me coloco a pensar sobre o poder dos fatos... alguns acontecimentos nos surpreendem de tal maneira, positiva ou negativamente, que contra eles nos sentimos impotentes. A clássica frase: é fato, não tem como negar, não há o que fazer.
Quem nunca desejou em algum momento que sua vida fosse como um filme... lembrei-me de vários deles agora: Click, Efeito borboleta, Como se fosse a primeira vez, De volta para o Futuro... filmes cujos personagens em determinado momento voltam no tempo e tomam decisões diferentes (aparentemente insignificantes até) e mudam todo desfecho da trama.
Diariamente tomamos milhares de decisões e caminhamos rumo ao desconhecido. Imaginamos, sonhamos, planejamos como se tivéssemos o controle dos acontecimentos em nossas mãos, até sermos surpreendidos por um fato, um acontecimento não esperado.
Destino? Não me conforta. O que me importa crer que tudo está pré-determinado se o que está pré-determinado eu desconheço e preciso igualmente decidir o que fazer, pra onde ir, onde quero chegar.
Nas alegrias da vida me compete ficar com o mérito: eu decidi sair de casa, eu optei por este curso, nós decidimos nos casar, Deus (no máximo) me ajudou...
São nos momentos de tristeza e dor, quando sentimos o peso das nossas escolhas sobre nossos ombros, quando sentimos que estamos perdidos sem saber pra onde ir, que recorremos à divindade: era pra ser assim; Deus quis assim; tudo tem um objetivo, nada acontece por acaso; é o destino que Deus traçou pra mim; ou na pior hipótese, estou pagando pelos erros que cometi numa outra encarnação (erro esse que desconheço e nem me compete pedir perdão, apenas aceitar e pagar nesta vida).
Alguns comentários coloquiais que ouço por aí me preocupam: "as pessoas não mudam mesmo"; "Filho de peixe, peixinho é"; "fez uma vez vai fazer sempre"; "o amor não muda as pessoas"; "pau que nasce torto nunca se endireita ... assim parece fácil julgar as pessoas... Só me pergunto se eu estou entre as "sem solução" ou as "incapazes de errar"? Ou somos julgados/as por tema: gosto de estudar e sempre gostarei, sou fiel e sempre serei, roubei uma vez e sempre serei ladra, menti e por isso estou condenada à mentira... é assim que funciona?
Não tenho o controle dos fatos em minhas mãos, isso atesta a fé cristã, mas tenho escolhas a fazer diante dos fatos, ainda que eu não saiba exatamente aonde essas escolhas me levarão...
Não posso escolher/determinar tudo ao meu redor. Mas escolho em que direção quero seguir.
Diante de mim há um horizonte que me orienta, que ao olhar para ele reconheço quem eu sou e ajuda quando me sinto perdida, sem rumo.
No meu horizonte eu vejo flores porque não abandono as boas sementes, eu vejo a paz, porque não alimento o ódio e busco a reconciliação, eu vejo amor porque carrego ele comigo e esse não me há de faltar, eu vejo grandes encontros porque procuro pelo abraço e prefiro não caminhar sozinha. Eu vejo Deus cujo poder de atração me leva para junto dele mesmo quando pareço distante... Ela me toma em seus braços, cura as feridas do meu caminhar, alivia o meu cansaço e me da de comer. Como criança pequena eu me vejo adormecer em seus laços, no conforto do seu colo encontro a minha paz (cf. Os 11.4).
As Palavras não apenas expressam o cotidiano, mas também interagem com ele, se misturam, se transformam, se recriam e se renovam. Escolhi "Palavras" porque é o que nomeia, da sentido e valor as coisas e Cotidiano porque é o lugar onde essas coisas acontecem - onde a vida acontece.
terça-feira, 27 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
O Poder das Palavras
Herdei da teologia, principalmente das conversas com as teólogas feministas, esse gosto pelas palavras, esse olhar para as palavras como geradoras, parideiras de mundos. Palavras tem poder - são feitas de magia e bruxaria, pragas e encantos. Sempre foi assim, segundo a Bíblia, antes de todas as coisas havia a Palavra Criadora, o Verbo, a Sabedoria.
"Palavras apenas, palavras pequenas, palavras..."
Tenho várias caixinhas recheadas de palavras que recebo ou encontro por aí e vou guardando, algumas aleatóriamente, porque são livres demais para se encaixar nas minhas categorias, outras não dão trabalho algum, é só colocar na caixinha padrão, etiquetar e usar conforme a conveniência. São fáceis de achar por aí, todo mundo usa.
Tenho uma linda coleção de palavras, algumas me são tão preciosas que raramente ouso pronunciá-las. As palavras brilhantes e alegres estão criando mofo e preciso colocá-las para fora mais vezes... Já as apaixonadas e carinhosas parecem desgastadas rsrssrsrrsr, talvez precisam ganhar uma cor diferente (ando com essa mania de querer pintar e reformar tudo aqui em casa, mas tem coisas que não tem jeito, só trocando por novas mesmo).
Como eu disse, tenho guardadas muitas palavras... palavras musicais, palavras novas, mais antigas, estrangeiras, de todos os tamanhos, bonitas, feias, simples e complexas, palavras sagradas e profanas, também tenho algumas palavras estranhas... mas o que tem me preocupado mesmo é a maneira como venho usando essa coleção, com quais caixinhas tenho brincado, quais tenho aberto e pronunciado.
Algumas palavras são muito perigosas e podem ferir profundamente. Não sou a única que conhece esse tipo de palavras, basta soltar uma e voce ja recebe em troca diversas outras... chega ser engraçado, se não fosse triste.
As palavras ditas e ouvidas no momento de raiva ganham intensidade maior e produzem ecos que dificultam a ação do elixir do esquecimento. Uma vez ditas não se pode colocá-las nas caixinha como se nada tivesse acontecido. Elas têm vida própria e pintam realidades para além daquela que se desejava expressar ou se sentia ao dizer. Ao serem pronunciadas registram na memória o som e a imagem daquele instante e ficam guardadas ali até que outras palavras sejam colocadas sobre elas e ocupem o seu lugar. Tudo é uma questão de tempo e de espaço e cada colecionador pode escolher a palavra que quer guardar.
Tenho aprendido às duras penas que amar muito alguém e querer bem a essa pessoa não significa ver o mundo da mesma maneira e que ter um objetivo comum não significa que há consenso quanto à forma de alcançar esse objetivo... as diferenças que enriquecem e aproximam as pessoas, também causam um tremendo cansaço, desgastam as relações e as palavras, causam dor.
Haja tempo para cicatrizar as feridas, haja tempo para tornar a memória e as palavras doces novamente, como foram um dia.
"Palavras apenas, palavras pequenas, palavras..."
Tenho várias caixinhas recheadas de palavras que recebo ou encontro por aí e vou guardando, algumas aleatóriamente, porque são livres demais para se encaixar nas minhas categorias, outras não dão trabalho algum, é só colocar na caixinha padrão, etiquetar e usar conforme a conveniência. São fáceis de achar por aí, todo mundo usa.
Tenho uma linda coleção de palavras, algumas me são tão preciosas que raramente ouso pronunciá-las. As palavras brilhantes e alegres estão criando mofo e preciso colocá-las para fora mais vezes... Já as apaixonadas e carinhosas parecem desgastadas rsrssrsrrsr, talvez precisam ganhar uma cor diferente (ando com essa mania de querer pintar e reformar tudo aqui em casa, mas tem coisas que não tem jeito, só trocando por novas mesmo).
Como eu disse, tenho guardadas muitas palavras... palavras musicais, palavras novas, mais antigas, estrangeiras, de todos os tamanhos, bonitas, feias, simples e complexas, palavras sagradas e profanas, também tenho algumas palavras estranhas... mas o que tem me preocupado mesmo é a maneira como venho usando essa coleção, com quais caixinhas tenho brincado, quais tenho aberto e pronunciado.
Algumas palavras são muito perigosas e podem ferir profundamente. Não sou a única que conhece esse tipo de palavras, basta soltar uma e voce ja recebe em troca diversas outras... chega ser engraçado, se não fosse triste.
As palavras ditas e ouvidas no momento de raiva ganham intensidade maior e produzem ecos que dificultam a ação do elixir do esquecimento. Uma vez ditas não se pode colocá-las nas caixinha como se nada tivesse acontecido. Elas têm vida própria e pintam realidades para além daquela que se desejava expressar ou se sentia ao dizer. Ao serem pronunciadas registram na memória o som e a imagem daquele instante e ficam guardadas ali até que outras palavras sejam colocadas sobre elas e ocupem o seu lugar. Tudo é uma questão de tempo e de espaço e cada colecionador pode escolher a palavra que quer guardar.
Tenho aprendido às duras penas que amar muito alguém e querer bem a essa pessoa não significa ver o mundo da mesma maneira e que ter um objetivo comum não significa que há consenso quanto à forma de alcançar esse objetivo... as diferenças que enriquecem e aproximam as pessoas, também causam um tremendo cansaço, desgastam as relações e as palavras, causam dor.
Haja tempo para cicatrizar as feridas, haja tempo para tornar a memória e as palavras doces novamente, como foram um dia.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Ventos de Outono
"O vinho molha e tempera os espíritos e acalma as preocupações da mente...ele reaviva nossas alegrias e é o óleo para a chama da vida que se apaga. Se você bebe moderadamente em pequenos goles de cada vez, o vinho gotejará em seus pulmões como o mais doce orvalho da manhã...Assim, então, o vinho não viola a razão, mas sim nos convida gentilmente à uma agradável alegria." (Sócrates)
Gosto do outono porque ele tem seus mistérios. É quando as plantas e os animais mudam sua roupagem, trocam de cor, concentram suas energias no que é essencial para a sobrevivência na próxima estação. Os galhos vazios, as folhas secas nos parques, o vento frio nas manhãs e fim de tarde comunicam que o inverno se aproxima.
As pessoas também acabam criando seus rituais de preparação para receber o inverno. A previsão do tempo anuncia as primeiras frentes frias e nós vamos tirando dos roupeiros os cobertores, os blusões de lã (alguns cheirando a mofo ainda), os casacos. Lembramos de comprar lenha pros fogões e lareiras antes que o frio aumente e o preço da lenha suba na mesma proporção e, claro, substituímos a cerveja (para alguns, sinônimo de férias e verão) pelo nosso bom vinho de cada dia.
Nada se compara ao prazer desses primeiros dias frios – pela saudade que muda nossas sensações e nos tira do campo racional (nem nos deixa pensar nos transtornos que o frio causa na vida da gente) e porque é parte importante do jeito caxiense de ser.
Não tem como imaginar a vida aqui sem o frio, sem os parrerais, sem os vinhos e espumantes que alimentam a economia e a cultura da região, sem os queijos coloniais e as massas caseiras servidas das mais variadas formas, e sem o cheiro da fumaça das chaminés que deixa as noites ainda mais nubladas e misteriosas reforçando as características interioranas dessa grande cidade.
Eu aprendi a amar o outono e a aceitar o inverno com sua beleza e rigidez típicas. Esse ano quero seguir à risca o rito outonal: também quero desprender-me de algumas folhas secas e soltá-las ao vento, quero cuidar daquilo que me é essencial nas noites frias da vida, alimentar o que me sustenta e me permite brotar em novas estações, quero manter o corpo e a casa aquecidos para ser aconchego e morada.
Lise e Aluizio, Abraço por estarem comigo neste espaço que ainda me é “estranho”, mas gosto.
Gosto do outono porque ele tem seus mistérios. É quando as plantas e os animais mudam sua roupagem, trocam de cor, concentram suas energias no que é essencial para a sobrevivência na próxima estação. Os galhos vazios, as folhas secas nos parques, o vento frio nas manhãs e fim de tarde comunicam que o inverno se aproxima.
As pessoas também acabam criando seus rituais de preparação para receber o inverno. A previsão do tempo anuncia as primeiras frentes frias e nós vamos tirando dos roupeiros os cobertores, os blusões de lã (alguns cheirando a mofo ainda), os casacos. Lembramos de comprar lenha pros fogões e lareiras antes que o frio aumente e o preço da lenha suba na mesma proporção e, claro, substituímos a cerveja (para alguns, sinônimo de férias e verão) pelo nosso bom vinho de cada dia.
Nada se compara ao prazer desses primeiros dias frios – pela saudade que muda nossas sensações e nos tira do campo racional (nem nos deixa pensar nos transtornos que o frio causa na vida da gente) e porque é parte importante do jeito caxiense de ser.
Não tem como imaginar a vida aqui sem o frio, sem os parrerais, sem os vinhos e espumantes que alimentam a economia e a cultura da região, sem os queijos coloniais e as massas caseiras servidas das mais variadas formas, e sem o cheiro da fumaça das chaminés que deixa as noites ainda mais nubladas e misteriosas reforçando as características interioranas dessa grande cidade.
Eu aprendi a amar o outono e a aceitar o inverno com sua beleza e rigidez típicas. Esse ano quero seguir à risca o rito outonal: também quero desprender-me de algumas folhas secas e soltá-las ao vento, quero cuidar daquilo que me é essencial nas noites frias da vida, alimentar o que me sustenta e me permite brotar em novas estações, quero manter o corpo e a casa aquecidos para ser aconchego e morada.
Lise e Aluizio, Abraço por estarem comigo neste espaço que ainda me é “estranho”, mas gosto.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
ESPELHOS
Eu queria ter o hábito de usar óculos
Já insisti, por necessidade.
Troquei os velhos (sem ao menos serem usados) por modelos mais modernos pra ver se me adaptava:
Óculos de grau, óculos de sol, óculos de sol com grau...
Todo esforço em vão.
Realmente tem dias que lamento esse meu fracasso.
E tenho que confessar que invejo as pessoas
Que sacam de seus óculos escuros e saem elegantemente
Desfilando sorrisos por aí...
Voce já reparou que quem usa óculos costuma andar de cabeça erguida?
Simples, óculos são delicados e custam caro. Ninguém deseja ter que
resgatá-los do chão.
Usar óculos exige mesmo uma certa disciplina, limpar, cuidar.
Dizem que quem usa óculos atrai todas as atenções para a boca, para o sorriso
Bocas e olhos são bastante expressivos, porém são diferentes. Enquanto as bocas expressam o superficial e atiçam a fantasia, os olhos são como duas janelas que convidam a olhar para dentro. São conhecidos também como espelhos da alma.
Têm dias que me incomoda profundamente sair de casa com a alma exposta.
Já insisti, por necessidade.
Troquei os velhos (sem ao menos serem usados) por modelos mais modernos pra ver se me adaptava:
Óculos de grau, óculos de sol, óculos de sol com grau...
Todo esforço em vão.
Realmente tem dias que lamento esse meu fracasso.
E tenho que confessar que invejo as pessoas
Que sacam de seus óculos escuros e saem elegantemente
Desfilando sorrisos por aí...
Voce já reparou que quem usa óculos costuma andar de cabeça erguida?
Simples, óculos são delicados e custam caro. Ninguém deseja ter que
resgatá-los do chão.
Usar óculos exige mesmo uma certa disciplina, limpar, cuidar.
Dizem que quem usa óculos atrai todas as atenções para a boca, para o sorriso
Bocas e olhos são bastante expressivos, porém são diferentes. Enquanto as bocas expressam o superficial e atiçam a fantasia, os olhos são como duas janelas que convidam a olhar para dentro. São conhecidos também como espelhos da alma.
Têm dias que me incomoda profundamente sair de casa com a alma exposta.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Pra começar...

Há tempo venho falando em criar um blog pra poder expresssar algumas idéias, opiniões, falar das coisas que tenho visto, vivido, pensado quando bate aquela insônia. Quero que seja uma motivação também para eu buscar coisas diferentes, (re)ler livros guardados na estante e fazê-los novamente parte do meu cotidiano.
No mais, tudo é pretensão e necessidade mesmo.
Necessidade de fazer uma leitura dos acontecimentos rotineiros, trocar informações, afinar os ouvidos, jogar purpurina nas coisas opacas, colorir os ambientes, adubar as plantas e as idéias pra ver algo bonito, inesperado florescer... percebo que a adaptação à realidade é ruim, melhor é não se adaptar, não acostumar o olhar, não domesticar o paladar, ...
Vive dentro de mim uma eterna insatisfeita... ouvi isso hoje e agora, só agora me dei conta como isso é libertador. Sei que não sou a insatisfeita rabujenta, só não nego minha origem protestante, questionadora.
Voces viram que por aí vai né? Voltamos a esse assunto num outro momento porque esse papo aqui é só pra começar mesmo.
Como sou nova nisso, preciso descobrir as ferramentas que tenho disponíveis pra tornar esse cantinho mais aconchegante.
Buenas
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