As Palavras não apenas expressam o cotidiano, mas também interagem com ele, se misturam, se transformam, se recriam e se renovam. Escolhi "Palavras" porque é o que nomeia, da sentido e valor as coisas e Cotidiano porque é o lugar onde essas coisas acontecem - onde a vida acontece.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
quarta-feira, 15 de junho de 2011
A rotina perfeita é Deus - Adélia Prado
Recolhe do ninho os ovos
a mulher
nem jovem nem velha,
em estado de perfeito uso.
Não vem do sol indeciso
a claridade expandindo-se,
é dela que nasce a luz
de natureza velada,
é seu próprio gosto
em ter uma família,
amar a aprazível rotina.
Ela não sabe que sabe,
a rotina perfeita é Deus:
as galinhas porão seus ovos,
ela porá a sua saia,
a árvore a seu tempo
dará suas flores rosadas.
A mulher não sabe que reza:
que nada mude, Senhor.
a mulher
nem jovem nem velha,
em estado de perfeito uso.
Não vem do sol indeciso
a claridade expandindo-se,
é dela que nasce a luz
de natureza velada,
é seu próprio gosto
em ter uma família,
amar a aprazível rotina.
Ela não sabe que sabe,
a rotina perfeita é Deus:
as galinhas porão seus ovos,
ela porá a sua saia,
a árvore a seu tempo
dará suas flores rosadas.
A mulher não sabe que reza:
que nada mude, Senhor.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Sou noite, penumbra
breu, bruma
um espaço vazio em algum lugar.
Também ja fui rio
desaguei-me todinha
me escorrí por aí ...
deus me livre represar.
Em madrugadas frias,
sou tua, sou minha
sou o que dá
às vezes pilantra, às vezes poeta
pra equilibrar.
Depois por ironia
ou por simples prazer
Eu me visto do amanhecer
e saio a colher o dia.
domingo, 5 de junho de 2011
ah, o amor e seus ideais... Parte II
Gosto das teorias como gosto de tudo que tenta definir o indefinível, descrever o indescritível ou explicar o inexplicável... gosto da ousadia e da presunção de quem tenta captar algo e criar categorias. E gosto mais ainda de quem usa seus conhecimentos para desconstruir ou relativizar àquelas, fazendo surgir novos conceitos ou pontos de vista. Assim como a pedra lançada na água que faz surgir um círculo após o outro sucessivamente.
Foi esse espírito curioso, voltado às coisas mundanas e corriqueiras que me levou a conhecer um pouquinho da teoria do Anarquismo Somático ou Somaterapia, defendida por Roberto Freire em 20 anos de terapia e descritas nos seus livros "A alma é o Corpo" e "Ame dê Vexame".
A palavra Soma é usada para descrever a totalidade do ser humano em suas extensões físicas, afetivas, sensuais, cognitivas e também sexuais. Em outras palavras, Soma é o ser humano visto na sua integralidade, na sua forma plena. Soma ou Somaterapia é uma prática terapêutica corporal e em grupo, baseado na obra de Wilhelm Reich, que visa a recuperação de pessoas submetidas a repressão autoritária. Como repressão autoritária compreende-se toda forma de poder que tira do individuo a sua liberdade pessoal de pensar e agir conforme sua própria natureza humana e ecológica.
A Soma tenta desconstruir a idéia circular de que o amor rima com dor e combate a Ideologia do Sacrifício, segundo ele, sustentadas pelas religiões judaico-cristãs, pelo Marxismo e pela própria psicanálise. Para os adeptos dessa linha de pensamento o principal conflito das pessoas é a relação entre liberdade versus autoritarismo, ou seja, garantida a liberdade pessoal, os problemas afetivos, sexuais, criativos e produtivos desaparecem.
Em uma entrevista Roberto Freire comenta de que forma suas teorias marcam sua forma de relacionar-se: "Fico totalmente apaixonado pela pessoa que está ao meu lado, na hora que estou com ela. E acontecem sempre coisas fortes e bonitas. E ficamos juntos o tempo que for bom para nós. Preciso de pessoas que não me cobrem fidelidade, nem continuidade, nem exclusividade.Gosto do namoro, do encontro, que propicia sexualidade original, lúdica, alegre, descartável. Assim, a gente vive em permanente estado de descoberta, surpresa e encantamento."
Enquanto o ideal de amor romântico dos contos de fadas e novelas terminam sempre com um "... viveram felizes para sempre", o ideal de amor anarquista pressupõe a liberdade de escolha que é altamente temporal, presente, cotidiana e momentanea.
Os vínculos existem somente enquanto há interesse de ambas as partes, sem perspectivas para um depois. Com todo esse despreendimento, engana-se quem pensa que a Somaterapia é a cura para todas as "dores de cotovelo" ou "ressacas de amor". Esses anarquistas também convivem com a dor da ausência, dos "nãos" recebidos e principalmente com a solidão. Mas a ausência do outro não é entendida como perda, uma vez que não existe o sentimento de posse ou propriedade.
Os vínculos existem somente enquanto há interesse de ambas as partes, sem perspectivas para um depois. Com todo esse despreendimento, engana-se quem pensa que a Somaterapia é a cura para todas as "dores de cotovelo" ou "ressacas de amor". Esses anarquistas também convivem com a dor da ausência, dos "nãos" recebidos e principalmente com a solidão. Mas a ausência do outro não é entendida como perda, uma vez que não existe o sentimento de posse ou propriedade.
Dois grandes expoentes do amor anarquista foram, além de Reich, David Cooper e Fritz Perls, dos quais Freire se reconhece como discípulo.
É de Perls um dos textos mais conhecidos que circula pela internet e que tem como fundamento essa idéia do amor anarquista e libertário, que se chama Oração da Gestalt:
"Eu faço as minhas coisas
e você faz as suas.
e você faz as suas.
Não estou neste mundo
para satisfazer as suas expectativas
e você não está neste mundo
para viver conforme as minhas.
Você é você,
eu sou eu.
E se por acaso nos encontrarmos
será maravilhoso.
E se não,
não há nada a fazer.
Um texto anônimo, escrito por um dos clientes de Roberto Freire, acrescenta à essas, outras idéias, como variações sobre um mesmo tema:
"Se eu faço unicamente o meu
e tu o teu
corremos o risco de perdermos
um ao outro e a nós mesmos
Não estou neste mundo para preencher tuas expectativas
mas estou neste mundo para me confirmar a ti como um ser humano único
para ser confirmado por ti
Somos plenamente nós mesmos
Somente em relação um ao outro.
Eu não te encontro por acaso
Te encontro mediante uma vida atenta
em lugar de permitir que as coisas me
aconteçam passivamente
Posso agir intencionalmente para que aconteçam
Devo começar comigo mesmo, verdade,
mas não devo terminar aí: a verdade começa a dois".
Casamentos, fidelidadade, cobranças, ciúmes, pactos e promessas são vistos como "neuroses" de uma sociedade autoritária e burguêsa.
Você concorda ou tem uma teoria diferente?
Ah, o amor e seus ideais... Parte I
Herdamos, praticamos e perpetuamos diferentes fôrmas e formas de amar.
Com qual delas você se identifica?
Você consegue reconhecer um padrão no seu jeito de relacionar-se com as pessoas?
Têm uma teoria ou "filosofia" que você segue à risca ou se permite surpreender, se deixa levar... deixar-se levar também não se encaixa num determinado padrão de comportamento?
Com qual delas você se identifica?
Você consegue reconhecer um padrão no seu jeito de relacionar-se com as pessoas?
Têm uma teoria ou "filosofia" que você segue à risca ou se permite surpreender, se deixa levar... deixar-se levar também não se encaixa num determinado padrão de comportamento?
É no universo das relações que a pessoa se desnuda, revelam-se as identidades, os valores aparecem e os desejos mais íntimos vêm à tona.
E nas páginas dos sites de relacionamentos ficam algumas pistas evidentes de comportamentos tão particulares e tão universais ao mesmo tempo. Milhares de pessoas, por exemplo, aderem à comunidade do orkut: "Eu quero um amor pra toda vida" ou "Não é ciúmes, porra, é amor". Coincidência, parte da natureza humana ou comportamento ideologizado, propagado, difundido? Quem nomeia o que eu sinto?
Quem diz o que é ou não permitido no vasto campo das relações humanas?
E nas páginas dos sites de relacionamentos ficam algumas pistas evidentes de comportamentos tão particulares e tão universais ao mesmo tempo. Milhares de pessoas, por exemplo, aderem à comunidade do orkut: "Eu quero um amor pra toda vida" ou "Não é ciúmes, porra, é amor". Coincidência, parte da natureza humana ou comportamento ideologizado, propagado, difundido? Quem nomeia o que eu sinto?
Quem diz o que é ou não permitido no vasto campo das relações humanas?
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