Amei aquela casa desde o primeiro momento em que a vi. Antes mesmo de entrar e conhecê-la melhor, ela ja exercia um fascinio sobre mim.
Ao me aproximar, sentia um misto de dúvida e expectativa: será que era o momento certo de encarar uma mudança?
Da rua se via uma pequena varanda com canteiros ao seu redor, promessa de um jardim multicolorido.
A casa era simples e bonita, do jeito que eu gosto. O espaço interno era amplo e confortável, tinha uma lareira para aquecer e embelezar as noites frias de inverno, uma banheira de hidromassagem no quarto principal, garagem dupla, uma churrasqueira excelente para reunir os poucos e bons amigos e, no pátio dos fundos, um enorme canteiro ja preparado para se plantar uma horta, paixão que eu herdei da minha mãe. Tudo se encaixava perfeitamente nos meus sonhos. E eu estava certa de que desejava fazer daquela casa o meu lar.
Meus olhos brilhavam diante da novidade e das possibilidades que ela trazia de felicidade.
Mudança feita, família instalada, a nova casa é comemorada como mais uma conquista.
Por um tempo acho que fui feliz desfrutando esses espaços e momentos íntimos com muita intensidade.
Comecei então a dedicar à minha nova casa boa parte do meu tempo, da minha energia, da minha criatividade, da minha paixão. Ela passou a fazer parte da minha vida e de todos os meus projetos. Era quase impossível me imaginar longe de casa e da segurança e proteção que ela me proporcionava.
Mas com o passar dos dias algumas coisas foram ficando diferentes e eu nem sei explicar o momento exato em que tudo começou a mudar.
Eu olhava para a casa e sabia que era a mesma... a lareira, o jardim, tudo permanecia ali como antes, mas nada era igual. Talvez eu estivesse diferente, o meu jeito de sentir e perceber o que estava ao meu redor ja não era o mesmo: a casa parecia exigente demais, necessitava de atenção e cuidados para ficar bem, para ser um lar. Eu ja não estava disposta a dedicar tanto do meu tempo a essas atividades corriqueiras do cotidiano. Não tinha motivação pra nada, nada me dava prazer. Parei de acender a lareira e deixei o frio tomar conta do espaço e de mim. Parei de cuidar do jardim que em contrapartida encheu-se de ervas daninhas que sufocaram as flores, as cores e o perfume... um longo inverno se aproximava.
Qualquer tentativa que eu fazia de voltar ao que era antes me causava um tremendo cansaço e eu prontamente desistia.
Ao invés disso, preferi me afastar, sair de casa, respirar outros ares. Ja não havia sentido para ficar ali. Aquela casa que cabia perfeitamente nos meus sonhos, agora parecia pequena demais, estreita demais e não me permitia ver o horizonte.
O certo é que nem todas as pessoas tem a capacidade de encontrar sentido e prazer no sonho quando esse se torna parte do seu cotidiano. Eu ainda não sei se o problema era meu ou da casa, também não estava disposta a pensar sobre isso e talvez ter que encarar uma profunda reforma.
O desejo, ao contrário do que se imagina, não se alimenta do encontro e o sonho não suporta a realidade... o próprio do desejo e do sonho é a busca.
O desejo, ao contrário do que se imagina, não se alimenta do encontro e o sonho não suporta a realidade... o próprio do desejo e do sonho é a busca.
Ao andar pelas ruas notei tantas casas diferentes até encontrar uma onde eu desejasse morar.
Meus olhos voltaram a brilhar novamente e eu fiquei fascinada com as possibilidades de felicidade que a nova casa poderia me proporcionar...
Bem, pessoas como eu podem até sonhar com a "casa própria", mas não se importam em pagar o preço do aluguel.
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