quinta-feira, 24 de junho de 2010

Esquecer para lembrar

Um dos pontos fortes da Pedagia de Rubem Alves que norteia meus pensamentos neste momento é o conceito de des-construção. O momento é de des-construir (e não de desabar, espero). O momento é de esquecer para lembrar.
Para Rubem Alves somos o resultado de um feitiço colocado em nós pela nossa família, pelos educadores, pelo contexto social. E a função da psicanálise é justamente "ver cada corpo como um sapo dentro do qual está um príncipe esquecido. Seu objetivo não é ensinar nada. Seu objetivo é o contrário: des-ensinar o sapo sua realidade sapal. Faze-lo esquecer do que aprendeu, para que possa lembrar-se do que esqueceu."
Esquecer para lembrar...  exigência de todo processo de mudança e restruturação, de toda forma de aprendizagem e amadurecimento.
Depois de um longo período acostumados a uma determinada realidade ou situação, é comum termos dificuldade de nos imaginarmos vivendo de forma diferente. Como quem tenta redecorar a sala, mas não consegue imaginar cada mobília senão no mesmo lugar onde está, esgotamos as possibilidades do novo, do diferente, do inusitado e nos prendemos a determinados padrões de comportamento, repetimos certos vícios... nos tornamos previsíveis e pouco criativos. Porque mudanças fazem bagunça, tiram as coisas do lugar, geram num primeiro momento confusão, dúvidas, angústias... ansiedade. Exige rompimentos com velhos esquemas e paradigmas... por isso o novo nos assusta.
"Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me, e ser eu..." diz alberto Caieiro.
Esse eu que permanece e que alguns chamam de identidades é o que me refiro como raízes. Raízes no plural, como ramificações... diversos "eus" grávidos, cheios de vida, à espera do estímulo certo que o faça despontar, despertar e revelar-se de novo.

Nenhum comentário: