terça-feira, 26 de julho de 2011

Uma noite com Carpinejar

Fabricio Carpinejar é um poeta caxiense de 36 anos que faz uma perfeita combinação entre bom humor e inteligencia,coisa rara de se ver na mídia.
Sua sensibilidade para captar pequenas nuances dos acontecimentos cotidianos e transformá-los em poesias, crônicas e personagens literários ja lhe rendeu diversas obras publicadas e várias premiações. 
Sua presença é questionadora, seus textos derrubam tabus e rompem com padrões pré-estabelecidos, especialmente quando o assunto é relações humanas e masculinidade.
Engraçado, simples, inteligente, sensível e pertubador... são alguns dos ingredientes que podem fazer de uma noite com Carpinejar uma experiência divertida e prazerosa.
Encontrei esse registro do seu encontro com a Ana Carolina no lançamento do livro "A Mulher Perdigueira" e não resisti... sou fã da dupla (que não é sertaneja).




Não Sabemos Namorar

Agora dei para mascar chiclete com sabor melancia. Deveria esconder esse detalhe.
Mórbido para quem atravessou os 36 anos.
Mas vejo o quanto escondo o romantismo debaixo da mordida. Sou açucarado.
Meu beijo é diabético. Logo eu que passo uma imagem seca de bolacha de sal.
Vá lá, não vou sorrir para mim de noite ou pedir a benção para os apaixonados,
mas não acredito nesta história de acomodação no romance.
Que de uma hora para outra cansamos.
Não é cansaço, não é que paramos de seduzir porque conquistamos
e que não precisamos mais arrebatar com surpresas.
Não é que estamos seguros e não arriscamos mais.
Não é o conforto ou o domínio territorial.
Senão começaremos a acreditar que existe cupido.
E cupido é o mais cafona dos anjos.
Quem começa uma relação com cupido termina na fossa
repetindo os erros ortográficos das canções sertanejas.
Confio que há gente que não saiba namorar. Não sabe namorar, e pronto.
Supõe que é instintivo, natural, que é beijar, abraçar e os oceanos transportam a espuma.
Que basta amar e as relações funcionam. Mas as relações queimam pelo pouco uso.
A eletricidade enferruja.
Há gente que jura que namorar é cumprir um expediente depois do expediente:
jantar, conversar e transar.
Há gente que não quer namorar,
e sim uma amizade para dividir o que se é. Sem tensão. Sem cobrança. Sem nervosismo.
Que tudo está definido e seguro para o final do ano,
que não pode ser perdido no próximo minuto.
Eu acabei de perder o próximo minuto. Namoro é ambição.
É um final de semana a cada dia. É uma delicadeza insuportável,
antecipar os movimentos e agradar quando não se espera.
Gentileza em cima de gentileza, infindável.
Um cuidado para não magoar com aviso e pergunta,
com aquela educação concedida a gestantes e idosos.
Namorar requer uma atenção absoluta.
E não reclame: amar pode ser para toda a vida quando oferecemos toda a nossa vida.
Tem que se preparar, ceder, abrir espaço, oferecer, renunciar.
A inquietação nasce da paciência. A criatividade nasce de uma porta fechada.
É um extremismo terrorista. Explodiremos civis.
Durante algum desentendimento, mobiliza-se a genealogia da imaginação para escandalizar de novo. Carro de som, helicóptero, arranjos suicidas pela janela. Não é permitido ficar quieto, parado, para conversar a respeito. A conversa demora.
No namoro, não existe como ser egoísta. Egoísmo se deixa no JK.
É pensar pelo outro, com o outro, como o outro.
É ter uma lista de compra de mercado na ponta da língua, junto com o chiclete de melancia:
qual a pasta de dente que ela usa, o xampu, o condicionador, o azeite, o leite que toma, o suco... Desconhecer a geladeira da namorada é passagem direta para o congelador.
É entrar numa livraria e pensar no livro que ela vai gostar, é entrar numa loja e pensar um vaso que combinaria com sua sala, é entrar no cemitério e sonhar com um mausoléu para a família, sim, planejar a morte junto - nada mais romântico.
É entrar em si mesmo e lustrar as memórias mais distantes
para parecer orfão antes de sua chegada.
Agora dei para mascar a minha boca.

                                                                                                                 http://carpinejar.blogspot.com/


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tudo tem seu tempo

As mais deliciosas tortas tem prazo de validade (tenho apenas uma semana pra comer a minha torta de aniversário)... coisas perecíveis são assim, precisam ser desfrutadas em tempo hábil para não fazerem mal. Pena que nem tudo que a vida nos presenteia vem devidamente etiquetado. Nesse caso, ter um bom "faro" bem que ajuda. Senão é contar com a sorte ... ou ter um estômago de avestruz para exercitar a maravilhosa arte de "engolir sapas/os".
Boa sorte!!!


sábado, 23 de julho de 2011

"Eu mesma não entendo minha enormíssima paciência de ficar à toa,
só pensando, pensando
e sentindo". Adélia Prado

domingo, 10 de julho de 2011

sábado, 9 de julho de 2011

Maria Rezende declama Drummond




Ana Maria Rezende é carioca, tem 32 anos e tem aparecido no cenário da cultura poética e teatral como uma das grandes poetisas da atualidade. Participou de cursos na "Casa Poema", fundada por Elisa Lucinda onde especializou-se na arte de declamar poesias. Em seus trabalhos cita obras suas e dos grandes clássicos da poesia como Adélia Prado, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Tem dois
títulos publicados "Substantivo Feminino" e "Benditas Palavras" e escreve para o blog ttp://mariadapoesia.blogspot.com/.
Apesar de dizer que seu instrumento de trabalho pode ser unicamente a Palavra, nas suas apresentações usa cenários, músicas e interpretações que fazem da poesia uma verdadeira peça teatral, como no video acima em que declama "Caso do Vestido" de Carlos Drummond de Andrade.

O trabalho mais solitário do mundo
(Tony Hoagland)

No momento em que você começa a fazer a pergunta, Quem me ama?,
você tá completamente ferrado, porque
a próxima pergunta é Quanto?,

e aí já se passaram centenas de horas,
e você ainda tá curvado sobre
os seus gráficos e ábaco,

tentando decidir se você teve o suficiente.
Esse é o trabalho mais solitário do mundo:
ser um contador do coração.

É tarde da noite. Você tá sozinho,
e e em volta de você, você pode escutar
os sons das pessoas

se apaixonando e se desapaixonando,
empurrando as catracas, colocando
suas moedas nas frestas,

pagando o preço que é cobrado,
que muda o tempo todo.
Ninguém sabe porque.
                                   (tradução: Maria Resende)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Percepções

Pessoas peso-as
não por kg
nem por metro
nem por decreto
nem pelo olhar.
Gosto daquelas
cuja presença
provoca em mim
profundezas ou
tamanha leveza,
tamanho desejo
de poder voar...
ainda que eu tenha raízes.

sábado, 2 de julho de 2011

Códigos

Te enviei um sinal de fumaça,
um não, vários
Sabe o que diziam?
A chaminé não funciona.
Ah, o celular tb não
E aqui continua frio.
Aprendi então que
onde tem muita fumaça
tem pouco fogo.